é o tal do ócio criativo, eu acho

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Me desculpem as feias

Não pegava as melhores minas, não jogava bem bola, não gostava e não sabia nada de cálculos. Virou escritor.
Não, não era um looser, tinha presença de espírito, humor refinado e escrevia bem o rapaz. Várias menininhas se encantavam por seu estilo, por sua capacidade cognitiva, por assim dizer. Mas essas menininhas nunca eram as que realmente interessavam a ele; na verdade, ele gostava das fúteis, daquelas que sempre só se interessam por tolos.
As garotas pueris sempre foram as mais instigantes - deve ter algo além dessa casca linda, pensava ele; as mais desafiadoras também; pois claro, afinal, desde de sempre, as princesinhas nunca olham para os nerds.
Seu senso estético era dominante com relação a qualquer outro critério de avaliação feminina. Ele era visual acima de tudo, ele sempre prefiriu as formas ao conteúdo, a imagem à coisa, Apolo à Dionísio - provavelmente tenha sido o excesso de TV na infância o responsável por tal forma apreensão de mundo.
Enfim, mesmo contra todos os fatos aí na cara de todo mundo, de que meninas assim nunca se interessariam por prolexia, ele continuava a escrever, na expectativa de que alguma dessas almas presas em corpos lindos e opressores pudessem, por meio de seu texto, libertar-se das amarraras da carne (e que carne!) e se mostrarem em sua verdadeira essência.
Era uma luta ingrata, ele sabia, mas insistia. Porque era uma missão maior - Vejam, como poderiam seres tão perfeitamente harmônicos não terem um sumo harmonicamente perfeito também, sobrehumano, Ideais? Hein? Como? - Pensava o rapaz. Seres como meninas lindas deveriam conter em seu interior a complexidade da simplicidade da criação, seriam Eigualàemeceaoquadrado com calça cintura baixa, o Big Bang de tomara-que-caia. E isso não poderia ser renegado à humanidade. Os caras que usualmente pegam essas minas são estupidamente imbecis para entender o que têm nas mãos. Agora, ele não; ele saberia lidar com essa caixa de Pandora, ele desvendaria, para o bem-comum, os mistérios reclusos por trás das curvas de um peitinho empinado, de uma cintura fina, de uma bundinha malhada e de cabelos forjados a custa de muita chapinha.
E nessa lida, foram uma, duas, três, várias minas naipe Vila Olímpia/Sirena/Anzu, e, para seu espanto, nada de nada de explicações supranaturais: só meninas, iguais a todas as meninas; que, como todas a meninas, eram idênticas naquilo que ele procurava. E não havia harmonia, não havia tranqüilidade, não havia nirvana. O que havia em todas era a mesma coisa, o tal do que, aquilo que seres limitados iguais a ele e aos caras em geral não entenderiam jamais. E ele viu que não era diferente dos partyboys, ele era igual a eles em sua incapacidade de sacar de verdade qual era o dessas minas.
Não importava a embalagem, no fundo todas eram rizomaticamente constituídas, de modo que formatar qualquer linha de pensamento cartesiano a seu respeito seria gastar papel e tinta à toa. Todas eram caoticamente lindas, todas eram incompreenssivelmente belas, todas eram bonitas enigmaticamente, todas eram o sorriso da Monalisa.
Mesmo sabendo disso, ele continua a escrever e a teimar no senso estético. E dá-lhe Sr. de Moraes.