é o tal do ócio criativo, eu acho

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Distraídos, distraídos venceremos?

Em um bar desses qualquer, cheios de burburinhos e gentes em happy hour como em todos os outros, numa noite normal, assim como quase todas as noites, dois amigos quaisquer conversam, como sempre:
- Mano, e o inverno?
- Que inverno?
- Pois é...
- Tempo loco. Nove da noite e 25º C no meio de agosto.
- Véio, de onde eu venho em agosto fazia um frio do cão. Todo mundo saía com umas três blusas, batendo o queixo de frio. Friaca, memo.
- Diz que é o aquecimento global, fio.
- Diz que é. Por isso eu digo não ao combustível fóssil e só uso álcool. Energia renovável na veia. Faço minha parte.
- Hã, hã.
- Mais uma, então?
- Opa!
- Grande, mais uma, faz favor.
- Mas, tá ligado que esse aquecimento global teoricamente não quer dizer nada. Tipo, em recorte de tempo geológico, não dá pra afirmar que tá de fato rolando uma mudança climática. É muito pouco tempo 100 anos, 200.
- Ah, pare.
- Diz que é, rapá.
- Será?!
- Não sei. Tem alguém do Greeenpeace por aí?
Chega a breja.
- Valeu, grande.
- Quantas já foram?
- Seis.
- Ô, você ligou pros caras?
- Liguei, mas ninguém pode vir.
- Tudo cusão, mano.
- Os caras tão tudo encolerado, mano.
- Tipo em Brasília.
- Que nem que igual, só não ganham tanta grana.
- E aí, vai votar nos mensaleiros ou nos sanguessugas?
- Tá foda, viu.
- Foda, pra caralho. Ô, tô deveras desiludido. É tudo muito podre, cara. Os caras, o sistema, tudo, cara.
- Mas você não acha que os caras são frutos do sistema?
- Que?! Você acha que os caras foram, tipo, determinados pelo meio?! Tudo filho-da-puta!
- Não. Tipo, você não acha que se o sistema todo fosse mais punitivo, não houvesse condescendência, blá, blá, blá... não seria melhor? Tipo, não seria essa putaria generalizada que é.
- Lógico. Mano, corrupção existe desde sempre, em todas as formas de governo, em todas as sociedades e em todos os tempos. Claro que tem a parada do fator cultural, do paternalismo, do messianismo, da alienação e tudo isso. E claro que tem isso do sistema.
- Claro que tem as danações da alma humana.
- Também.
- Então, cara, são 500 anos com os mesmo problemas de poder. Nada muda, cara.
- É reforma de base, véio. É por baixo o negócio.
- Então, segundo sua análise, onde colocarias epistemologicamente o PCC?
- Caralho, mano! PCC essa hora dá não. Porra, não agüento mais isso. E que que tem de epistemologia nisso?
- Atacaram um banco perto de casa hoje.
- É aquele negócio, você vai jogando a sujeira debaixo do tapete, uma hora a poeira se espalha pela casa inteira.
- Que bosta de analogia.
- Depois da sexta breja não dava pra exigir muito.
- É, dá não.
- Puta, mas que dava uma puta viagem isso, dava.
- Não, sim. Claro que dava. Já percebeu que a gente bebe e fica filosofando, fica, tipo, especulando sobre umas paradas, assim, que dariam e dão uma porrada de trabalhos fudidos? A gente sempre quer bancar uma de intelectual.
- Já. Mas qual o problema de se fazer uma análise socioantropoliticahistoricacultural brasileira?
- Não, nenhuma. O que eu tô falando é que nós somos um bando de burguesinho, que entra na faculdade, lê meia dúzia de livros, se inclina geralmente pra esquerda, porque se culpa pelas mazelas da sociedade, aí vem pro bar, e fica falando um monte de besteira, mas só fala, não faz nada. Depois vira yuppie, enche o cu de dinheiro e tem um filho que vai ser exatamente do mesmo jeito.
- Ou vai pra FAAP e vira pit boy.
- Ou isso. Mas a história sempre repete.
- Dialeticamente.
- Sim... sei lá.
- Por falar em repetir, mais uma?
- Sempre.
- Fritas?
- Manda também.
- E a loirinha, ali?
- Gostosinha, né mano?!