é o tal do ócio criativo, eu acho

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Distraídos, distraídos venceremos

Numa mesa de bar qualquer, numa noite qualquer de outono, dois amigos bêbados quaisquer conversam:
- Amigo, me vê mais uma! Faz favor!
- Então, belê, consideremos que existe um destino, que existe algo que me conduza, tipo o responsável por eu tá aqui contigo agora e não em casa ou num puteiro...
- Hum, tipo que tava escrito que a gente ia ser amigos e que, exatamente nessa noite, a gente estaria, exatamente nessa mesa desse bar, bebendo exatamente essa breja.
- Isso! Então, tá, existe um cara, que convencionamos chamar de Deus...
- Alá.
- Alá, Shiva... Karma ou de Dharma... Você entendeu.
- Qual a diferença de Dharma e Karma? Dharma não é a parada de Lost? E sabia que a Kate - a atriz que faz a Kate - casou com o loirinho, baixista da banda lá, o que cheirava, o amigo do Frodo, tá ligado?
- Sei lá qual a diferença, não importa. Aí que se tá escrito o que eu vou ser e como eu vou ser, então porque existe o inferno e céu, o karma, vidas passadas e vidas futuras? Eu não teria que aprender alguma coisa, elevar meu espírito, sei lá? Mas se já tá tudo feito, pra que isso tudo?
- Porque você tem o livre arbítrio. Tá na Bíblia. Você tá aqui pra fazer alguma coisa, é um livro com páginas em branco que você preenche. E Deus é uma criança brincando com sua fazenda de formigas.
- Hum, então eu não sou um marionete nas mãos de um ventríloco. Você acha que cada um de nós pode ser, tipo, o Neo e mudar seu destino?
- Wake up, Neo.
- So, the red pill or the blue pill, Neo?
Chega o garçon com a breja.
- A parada é a seguinte: ou a gente acredita que exista uma saída, que não importa que pílula tomar, que não existe vida fora da carverna, que não existe transcedência. Que existem apenas átomos, ou melhor, um tipo de átomo, que foi se juntando com outros e formando matéria, planetas, sistemas solares, e aí essas moléculas continuam se juntando até formar uma paradinha chamada DNA, aí essa paradinha continua a se juntar com outras paradinhas até formar coisas como você e eu e a nossa relação com o meio, e o mais louco de tudo é que ainda tem a consciência humana. Ou, então, a gente acredita em destino, e que tá tudo escrito e tal.
- Fica mais fácil.
- Ah, fica.
- Mas ao mesmo tempo imaginar que as coisas não são contigentes, também é foda. Qual a graça? Tá tudo escrito.
- É isso que eu tô falando. Eu prefiro acreditar que eu sou o senhor do meu destino, que eu posso fazer o que eu quiser e arcar com as consequências disso. Tipo efeito borboleta, teoria do caos, saca? Uma coisa tá relacionada com outra, existe uma cadeia de acontecimentos.
- É a parada das moléculas que eu falei.
- Tipo isso.
- Mas não entra na minha cabeça isso. Como? Cara, olha pra você, imagina o seu sistema nervoso, respiratório, sangüineo funcionando tudo junto... imagina que você respira, que você transforma açúcares em energia, que por sua vez, foi energia que a planta transformou em açúcar... Imagina que você tem sentimentos, que você tem medo, alegria...
- E tudo isso começou com os átomos de Hidrogênio...
- Como?
- Então, como? Somos poeira estrelar? Quem somos nós? Donde viemos? Existe vida após a morte? Estamos sozinhos? Numa situação de perigo você corre ou só caminha?
- Corro.
- Foda. Bêbado é foda.
- Cara, você tem noção que a gente tá bêbado discutindo sobre o mais existêncial dos temas, o primeiro deles, a vida? Que a gente tá tentando falar sobre um negócio que, tipo, os maiores cérebros da humanidade dedicaram uma vida inteira de estudos. Véio, a gente tá insultando só Platão, Kant, Volteire, Espinosa, Fernando Pessoa...
- Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma. E sobre a criação do Mundo?
- O quê?! Citando Fernando Pessoa!
- Desculpa aí.
- Tem uma boa que eu li hoje. Era: que flecha é a aquela no calcanhar daquilo? Pela pena é persa, pela precisão do tiro um mestre. Ora, todos os mestres são velhos. Se é persa, mestre e velho só pode ser Artaxerxes, ou um discípulo, ou um amigo, ou alguém que passou e atirou por despautério num momento gaudério de distração.
- Boa.
- Metafísica de cu é rola.
- Saideira?
- Opa! Amigo, outra!
- Essa mandioca frita tá muito boa, tá não?!
- Sequinha, né?!

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Criança Doente

E sigo em busca do olhar perdido.

Criança doente: procuro o olhar perdido!
Assim, assado.
Gratifica-se.
Tem Santo Expedito na lista telefônica?
Repasse para 25 pessoas nos próximos 12 minutos senão...
Bem, senão, nunca se sabe o pode acontecer .

Estará na esquina?
Ali?
Perto da Constelação de Virgem?
Minhas pernas não tremem, deve estar mais longe.
Ou não.

É o outono, certeza. Meu peito, na verdade minha laringe, percebeu que o inverno está chegando.
- Cof, cof, cof.
- Diga trinta e três, seu Manuel.
- Valda!
Dias frios e ensolarados igual à legal. Noites frias, nem tão legal. Meu pé fica gelado e meu nariz vermelho.

Acho que vi ele ali. Eu sempre vejo, ele me segue. Mas vive se escondendo.
Brejeira.
Danadinha.
Isso passa na primeira balada.

Ok, ok.

Enquanto isso, no Reino das Águas Claras, Lucas Silva e Silva procura São Jorge.
Seu Orlando era muito legal mesmo.