é o tal do ócio criativo, eu acho

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Quinta-feira

Era quinta-feira, quinzeprassete da noite. Tava um calor abafado desde de manhã, tinha feito uma tarde saariana, daquelas que dói pra respirar. E o pior de tudo é que Carol tinha ido pra uma reunião na putaqueopariu e tinha passado a tarde toda dentro de dois taxis sem ar-condicionado, se tivesse no escritório pelo menos teria o umidificador do estagiário com renite ligado no talo.
O dia de Carol, tinha começado cedo. Na verdade, tinha começado na segunda, os dias naquela semana só se separavam por 2 ou 3 horas de sono. Milhões de pepinos no trampo, carro no conserto, clientes filhosdaputa, chefe sacana, pós, doença da mãe, briga com a amiga com quem dividia o apê, enfim, não estava sendo uma boa semana.
No caminho de volta pra casa, os barzinhos estavam todos lotados, todo mundo queria tomar um chopinho honesto e justo pra refrescar a idéia e a vida. Um pessoal até tinham ligado pra ela, iam num novo boteco na Augusta, mas aquela noite seria a pra ler uns textos da pós e depois cair na cama com seu ursinho e os 18 travesseiros de estimação.
Carol, subiu no busão, desceu do busão, passou no mercado, comprou alguma coisa pra comer, chegou no apê, tomou banho, pôs o pijama, jantou, pegou os livros e começou a ler. Tudo no automático. Talvez o homem da vida dela tenha passado por ela, talvez ela tenha tropeçado numa mala de dinheiro, talvez tenha ouvido uma boa história, talvez qualquer coisa, ela nunca saberia.
Obviamente, a moçoila não conseguia se concentrar nas letrinhas do texto. "Esses caras inventam um nome diferente pra mesma coisa, escrevem meia dúzia de bobagens e enchem o cu de dinheiro", escreveu no rodapé de uma página. Tava cansada do texto, tava cansada daqueles últimos dias, tava cansada de ouvir Nelson Rubens, mas sua amiga insistia em ver tv num volume de asilo.
Ela resolver levantar e tomar uma água e niquiqui e ela passou por sua bolsa que tava no chão ao lado da cama, reparou uma coisa estranha. Aquela bolsa tinha um compartimentozinho externo aberto e bem ali tinha um papel dobrado, e ela não tinha colocado papel nenhum ali. Curiosa, Carol pegou o dito papel e abriu. Era um poeminha:

Mas que coisa esquisita
triste assim
uma moça tão bonita.


Quando ela ler isso,
não vou ver,
mas ganharei um sorriso.

Alguém, provavelmente no busão, o tinha escrito e colocado na bolsa dela e ela não tinha menor idéia de quem poderia ter sido e nem nunca saberia, ela virou musa pra alguém que por algum motivo não se conteve e teve que escrever dois versinhos bobos, mas que foram pra mais ninguém, só pra ela.
Naquela noite, Carol dormiu com seu ursinho, seus travesseiros, com o bilhetinho e com um sorriso no rosto.


ps.: Conto inspirado em um dois posts de dois blogs que li dia desses. Um deles é o Dougando e outro é o Loucuras da Mente.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Poxa, muito massa teu texto! achei teu blog nas estatísticas do meu blog, já que vc tinha me citado aqui. É uma história real? Eu adoro essas coisinhas pequenas da vida, pessoas que realmente têm uma sensibilidade capaz de nos fazer dar um sorriso que seja, porém muito especial. Ou as vezes, pessoas que sorriem pra vc, sem mais nem menos, e já fazem vc ganhar o dia. É muito gostoso essa coisa que algumas pessoas têm, queria que todos fossem assim. Parabéns pelo texto! beijão..Rebiscoito.

seg. out. 20, 03:10:00 PM

 

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